O ATEÍSMO
O ateísmo é uma posição filosófica que não aceita a existência de Deus. Só isso já é o suficiente para causar conflitos e fazer com que eles, os ateus, sofram preconceito e sejam mal compreendidos. Será que não acreditar em Deus muda o caráter de uma pessoa?
Há séculos a humanidade sempre acreditou na existência de um “deus”, alguns tinham fé sobre um único e outros sobre vários, porém, a crença em um ser superior e criador do Universo e de todas as coisas também tinha opositores. No fim do século 13, período da história conhecido pelo Renascimento, pequenos grupos formados por intelectuais que tinham uma ideologia ceticista (corrente filosófica que se baseia no raciocínio como operação discursiva, mental e lógica, sem apelar para conceitos místicos e/ou religiosos), passaram a contestar questões religiosas. A visão de mundo que era teocêntrica passa a ser antropocêntrica, e assim, os primeiros indícios do ateísmo começam a surgir.
Naquela época, ser cristão era praticamente uma imposição, por isso, poucos ateus eram realmente conhecidos e aceitos. Atualmente, eles ainda não são vistos com bons olhos. Num país onde a maioria é cristã ainda é difícil bater no peito e dizer: sou ateu. O que muitos perguntam é: O que realmente está por trás do ateísmo? O que ele “prega”? Os ateus são do mal, filhos do demônio que desejam ódio para o mundo todo? Revoltados, descrentes ou apenas pessoas que pensam de uma forma diferente?
Ao contrário do que muitos possam imaginar, os ateus não vivem em “bandos”, não fazem reuniões semanais, não seguem nenhum tipo de regra ou norma e muito menos fazem rituais satânicos. Já que eles não acreditam em Deus também não acreditam no Diabo.
Muitos levam a vida normalmente sem nem fazer menção à falta de religião, já outros se dedicam ao estudo e leitura sobre o assunto, até como forma de reforçar seu ateísmo. De fato é comum entre todos eles a crítica consciente à religião. O que para os religiosos se chama “fé”, ateus consideram como ingenuidade, alienação e ficção.
No Brasil, segundo o IBGE, há mais de 12 milhões de ateus
Crescimento do ateísmo
O primeiro registro de crescimento do ateísmo foi por volta de 1859, quando o cientista Charles Darwin (1809 - 1882) apresentou a Teoria da Evolução. A ciência que já vivia em conflito com a religião passou a duvidar de Deus abertamente e a sociedade passa também a se confrontar com os dogmas religiosos. Alguns anos depois, em 1882, o filósofo ateu, Friedrich Nietzsche (1844 - 1900) atestando a força do ateísmo, escreve: "Deus está morto! E quem o matou fomos nós!".
O número de ateus vem crescendo nos países sócio economicamente mais evoluídos, principalmente, os europeus. Nos últimos 100 anos, o ateísmo na Europa cresceu de 1,7 milhão para quase 130 milhões de pessoas (ver gráfico). Estima-se que haja atualmente cerca de 800 milhões de ateus no mundo todo. Marcelo Ronconi, diretor-geral da UNA (União Nacional dos Ateus), alerta para o fato desses números não serem totalmente confiáveis, "muitas pessoas no íntimo são ateias com consciência disso, mas ainda preferem não expor suas opiniões. Então elas tendem a dizer que são 'sem religião'", afirma.
20 NAÇÕES COM OS MAIS ELEVADOS
ÍNDICES DE ATEÍSMO
País | População | Ateístas + Agnósticos – Máx. | |
1 | Suécia | 8,986,000 | 85% |
2 | Vietnam | 82,690,000 | 81% |
3 | Dinamarca | 5,413,000 | 80% |
4 | Noruega | 4,575,000 | 72% |
5 | Japão | 127,333,000 | 65% |
6 | República Tcheca | 10,246,100 | 61% |
7 | Finlândia | 5,215,000 | 60% |
8 | França | 60,424,000 | 54% |
9 | Coréia do Sul | 48,598,000 | 52% |
10 | Estônia | 1,342,000 | 49% |
11 | Alemanha | 82,425,000 | 49% |
12 | Rússia | 143,782,000 | 48% |
13 | Hungria | 10,032,000 | 46% |
14 | Holanda | 16,318,000 | 44% |
15 | Grã-Bretanha | 60,271,000 | 44% |
16 | Bélgica | 10,348,000 | 43% |
17 | Bulgária | 7,518,000 | 40% |
18 | Eslovênia | 2,011,000 | 38% |
19 | Israel | 6,199,000 | 37% |
20 | Canadá | 32,508,000 | 30% |
Fonte: Atheism: Contemporary Rates and Patterns
Brasil e as religiões
O Brasil ainda é um dos países com grande parte da população cristã, o catolicismo representa 73% da população (2000 - último Censo do IBGE). Os ateus e os não religiosos formam o terceiro maior grupo em crescimento no país, de 1980 a 1991, a taxa foi de 250%.
Outro dado apurado pelo IBGE é de que a cada ano, cerca de 600 mil fiéis abandonam a Igreja Católica e migram para outras religiões, derivadas, principalmente, do cristianismo, entre elas as de orientação pentecostal e neo-pentecostal – duas vertentes do protestantismo que mais crescem nos últimos 40 anos.
“Um dos problemas do cristianismo foram as subdivisões da Igreja, antigamente havia uma única igreja, pois Deus falava para sua igreja e não suas igrejas. Não há necessidade de tantas igrejas diferentes pregando conceitos diferentes, acaba causando a competição entre elas. E isso é muito negativo para nós, católicos.”
Outro dado apurado pelo IBGE é de que a cada ano, cerca de 600 mil fiéis abandonam a Igreja Católica e migram para outras religiões, derivadas, principalmente, do cristianismo, entre elas as de orientação pentecostal e neo-pentecostal – duas vertentes do protestantismo que mais crescem nos últimos 40 anos.
“Um dos problemas do cristianismo foram as subdivisões da Igreja, antigamente havia uma única igreja, pois Deus falava para sua igreja e não suas igrejas. Não há necessidade de tantas igrejas diferentes pregando conceitos diferentes, acaba causando a competição entre elas. E isso é muito negativo para nós, católicos.”
Nivaldo Gomes, ministro extraordinário da Capela Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.
Segundo o IBGE: 72% das pessoas sempre seguiram a mesma religião, 82% dos evangélicos já foram católicos e 17% seguem mais de uma religião. Em 1991, a taxa de pessoas que se declararam católicas era de 83%, evangélicas, 9% e os “sem religião”, 4,7%. Em, 2000, esses números mudaram, católicos são 73%, evangélicos 15,4% e “sem religião” formam 7,5% da população brasileira. As Igrejas com maiores números de fiéis são:
Igrejas e seus números (IBGE – 2000)
01- Igrejas Católica Apostólica Romana – 124.980.132
02- Sem religião – 12.492.403
03- Assembléia de Deus – 8. 418. 410
04- Igreja Batista – 3.162.691
05- Pentecostais e Neopentecostais – 2.514.532
06- Congregação Cristã do Brasil – 2.489.113
07- Espírita – 2.262.401
08- Igreja Universal do Reino de Deus – 2.101.887
09- Igreja do Evangelho Quadrangular – 1.318.805
10-Igreja Adventista do Sétimo Dia – 1.209.842
11- Testemunhas de Jeová – 1.104.886
12- Igreja Luterana – 1.062.145
O historiador e professor da Universidade Estadual de Goiás, André Caes, concorda com essa afirmação. Segundo o ele, o ateísmo não vem crescendo como muitos pensam, “o dado estatístico mais importante é o crescimento do número dos ‘sem religião’, que não são ateus, mas que optam por não pertencer a uma religião específica. O cristianismo católico não perde adeptos para o ateísmo, mas perde fiéis para as Igrejas Pentecostais e Neo-Pentecostais. Na minha opinião, o ateísmo não vem crescendo, estatisticamente, ele mantém sua porcentagem normal.”
Preconceito
O Brasil é famoso pelo espírito de união de raças, credos e culturas, mas quando se trata dos ateus, a situação muda um pouco. Raros são os que não têm uma história de preconceito para contar. Cara feia, incompreensão, isolamento e até casos de agressão são quase rotina para ateus que expõem o que são.
Luana Souza conta que nunca falou abertamente sobre isso com a família, mas que no geral as pessoas se chocam quando ficam sabendo. “Muitas perguntam, ‘mas por quê?’ e pensam que a pessoa que não acredita em Deus é do demônio, não é capaz de amar ninguém. Só não acredito em Deus e isso não me impede de acreditar e amar as pessoas.” Essa relação ateu = “amigo” do demônio, também foi sentida por Cínthia Borges que aos 10 anos falou na sala de aula que não acreditava em Deus e foi chamada de demoníaca. “Isso para uma criança de 10 anos pesa muito”, lembra Cínthia.
O caso de agressão física foi relatado por Marcelo Ronconi, diretor geral da União Nacional dos Ateus: Em uma roda de amigos no centro da minha cidade, Taubaté - SP, um colega comentou "por cima" que eu sou ateu. Entre nós haviam dois caras que não eram meus amigos, apenas estavam junto conosco, e não estavam bêbados nem nada. Um deles começou para variar a dizer que ‘se eu não acredito em Deus eu não amo a vida!’, que ‘é por isso que o mundo está como está’, e sabe quando a pessoa se irrita sozinha? Eu não faço o tipo de discutir estupidamente, na verdade eu tenho um humor muito evidente, mas mesmo assim o cara quis briga. Não foi algo do tipo "vou te socar porque você é ateu" e sim um tapa na minha cara totalmente covarde, do nada, enquanto eu falava já de outro assunto. E quando eu me levantei aí sim para me defender, nos seguraram. Claro que ele me ofendeu horrores e só faltou chamarem a polícia. Ele me ameaçou de morte e ficou nisso. Marcelo acrescenta, “não exijo um sorriso na cara do crente quando digo que sou ateu, mas a intolerância é desagradável demais”.
Lendas antigas os tratavam como “seres da noite que andam de preto, matam animais nas ruas, comem crianças, são adoradores do diabo e vivem em grupos”, uma outra ainda dizia “se você cruzar com um ateu, vá para casa e tome 7 banhos seguidos para se purificar”. Claro que tudo isso não passa de mera imaginação e preconceito. “O ateu sempre está errado, as outras pessoas é que estão certas. Eles merecem meu respeito, mas eu não mereço o deles.”, contesta Cínthia.
O ateísmo pode ser observado
em suas mais variadas diferenciações.
Ao falar sobre o ateísmo, muitos tendem a simplificar tal ideia ao mero conjunto de pessoas que negam a existência de um ou vários deuses. Contudo, o desenrolar dessa questão está cercado de âmbitos mais complexos marcados pela postura e os pressupostos que definem as diferenças entre cada um dos descrentes. Dessa forma, podemos apontar que o ateísmo se desdobra em formas múltiplas de se reconhecer e agir em um mundo desprovido de deuses.
Para alguns ateus, a inexistência das divindades não se limita ao mero espectro de se colocar presença dessas em dúvida. Além de não acreditarem em Deus, muitos ateus defendem que seja possível – por meio de argumentos racionalmente constituídos – comprovar a ideia de que os deuses e sua realidade espiritual não sustentam a criação do mundo em que vivemos. Dessa forma, os integrantes do chamado “ateísmo forte” abraçam o desenvolvimento de um diálogo avesso à existência divina.
Em contrapartida, existem alguns ateus que encaram o ponto da insistência divina como uma opção de âmbito pessoal. Ao invés de se lançarem ao extenso simpósio vinculado ao tema, os representantes do “ateísmo fraco” limitam o abandono às divindades enquanto postura calcada em opções próprias. Sendo assim, estes ateus não se dispõem a participar ativamente do entrave existente entre os partidários da presença de Deus no mundo e os já citados ateus fortes.
Considerados por muitos como um desdobramento do ateísmo fraco, ainda podemos falar sobre a existência dos agnósticos. Os partidários dessa concepção preferem não se comprometer em uma posição rígida sobre o assunto. Para estes, não existem argumentos suficientemente maduros para que a inexistência de Deus seja terminantemente comprovada. Da mesma forma, não se convencem definitivamente que seres espirituais regem o processo existencial mundano.
Ao observar tantas modalidades do pensamento ateu, podemos ver que a questão pode girar em torno das mais variadas nuances. Ser ateu não implica necessariamente em atacar ou desprezar os demais indivíduos que se apegam à presença divina. De tal forma, observamos que assim como as formas de ver a interferência de Deus no mundo variam entre as diferentes religiões, a forma de se encarar a ausência divina também está cercada por um rico corolário de concepções e posturas.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola
ATEÍSMO IDEOLÓGICO E DIREITOS ANIMAIS
Nunca foi nem nunca será prerrequisito ser vegetariano para ser um ateu ideológico. Mas é difícil negar que há conexões entre os diversos aspectos do ateísmo ideológico e os Direitos Animais (DA) e que, no final das contas, torna-se questão de coerência um ateu dessa categoria se tornar veg(etari)ano e simpatizante ou defensor da causa abolicionista animal.
Cada aspecto citado do ateísmo ideológico tem algo que combine com a ética animal:
a) Descrença em deuses
(e em códigos morais absolutistas)
(e em códigos morais absolutistas)
A inexistência de deuses e a irreligião implicam que não existe uma ética/moral absoluta e de origem divina regendo a conduta dos seres humanos. Nisso os ateus se deixam reger por uma ética exclusivamente secular, que muda ao longo dos tempos -– e são suscetíveis a analisar, aprovar e assim aceitar as mudanças progressistas nessa ética.
Essa ética secular, que Richard Dawkins chama dezeitgeist moral, vive em permanente mudança, há milênios, e continuará se transformando até a extinção da humanidade. Antigamente legalizava a opressão oficializada de minorias (mulheres, estrangeiros, pessoas de outras religiões etc), inclusive permitindo a escravidão de seres humanos. Pouco a pouco foi (e vem) derrubando uma a uma as regras morais permissivas à opressão, com implantação da democracia, abolição de leis racistas, conquista de direitos pelas mulheres, mundialização dos Direitos Humanos, aceitação jurídica integral da homoafetividade, regulação legal das relações entre o ser humano e a Natureza a que ele pertence...
E o próximo passo desse progresso ético tende a ser o reconhecimento cada vez mais abrangente e consistente dos animais não humanos como sujeitos de direito, na sua condição de pacientes morais suscetíveis às consequências das ações dos humanos agentes morais. Negar esse avanço e crer que os animais não humanos não podem, ou não devem, ser eticamente respeitados é subestimar a mutabilidade do zeitgeist moral secular, ou mesmo duvidar dela.
Portanto, a descrença em deuses e, por tabela, em códigos morais absolutos facilita bastante o entendimento de que a incorporação dos Direitos Animais ao paradigma ético vigente é parte da incontível evolução do nosso sistema ético-moral (é perceptível que alguns carnistas questionam os Direitos Animais como se sua eventual sanção fosse a imposição de uma moral absolutista. Porém, nenhum teórico de Direitos Animais considera os DA como o limite ou auge da evolução ética das sociedades modernas. Encaram-nos sim como apenas mais um passo importante na eterna mutação do zeitgeist moral, que será sucedido por outros avanços futuros como, prevejo eu, a legalização da poligamia e do nudismo casual).
b) Humanismo secular
Este, pelo visto, ainda é limitado à espécie humana, e poderá ser sucedido aos poucos por um supra-humanismo que inclua tanto os animais humanos como os não humanos como sujeitos morais. Mas mesmo hoje ele já possui semelhanças muito fortes e numerosas com o ideal do abolicionismo animal: a oposição a opressões seja quais forem; o estabelecimento de uma cultura de paz e respeito aos vulneráveis; a rejeição do “direito” dos mais fortes de dominarem os mais fracos e lhes imporem suas vontades; a oposição a atos desnecessários de violência; a reivindicação de direitos integrais a categorias oprimidas; a preocupação com a sobrevivência futura e harmonia da humanidade considerando-se que a pecuária está ajudando a comprometer o futuro da espécie humana, através do seu enorme impacto ambiental , entre outros aspectos.
Analisando-se bem a proposta dos DA, é possível concluir que, considerando-se a exploração animal algo que atenta, ainda que indiretamente, contra os pilares do próprio humanismo, o veganismo e a adesão à luta pela abolição desse sistema de escravidão acabam sendo praticamente um imperativo ético aos humanistas seculares, sob pena de estarem sendo incoerentes e contradizendo seu próprio ideário.
Afinal, se os animais não humanos são tão ou mais oprimidos do que os seres humanos pelos quais o humanismo tanto zela, por que não se preocupar com eles também? Por que continuar consentidamente participando, por via do consumo, de um sistema que oprime seres que deveriam ter direitos, quando se é humanista e desejador do fim de todo e qualquer paradigma que negue direitos a quem os merece?
c) Filia à Razão e à Ciência
Os Direitos Animais possuem bases racionais e científicas cada vez mais fortes. Seja no que tange os estudos sobre senciência, consciência e comportamento animal, seja nas sólidas bases fincadas na Filosofia da Ética, seja na factualidade das denúncias contra as atividades de exploração animal, seja nos estudos dos impactos ambientais da pecuária e da pesca, os DA possuem uma forte, e cada vez mais difícil de negar, estrutura racional e científica.
As recorrências a apelos sentimentais orais ou gráficos são apenas uma faceta periférica da militância animalista. Há em contrapartida essa robusta fundamentação filosófica e científica, e o pelotão de filósofos e cientistas abolicionistas só vem aumentando ao redor do mundo e fortalecendo essa base intelectual do vegano-abolicionismo.
Por outro lado, o especismo e o carnismo vêm sendo dissecados por esse movimento e denunciados como carentes de bases racionais fiáveis. E é possível perceber na internet que a maioria dos formadores de opinião que ainda estão do lado antropocêntrico não vem conseguindo sustentar seus argumentos ou mesmo simplesmente argumentar sem que recorram a ideias contraditórias, ofensividade de linguagem, manifestação de paixões deletérias -– como o prazer viciado do paladar em torno das carnes -– e/ou evidências científicas questionáveis e precárias, contrariando tanto a Razão como a Ciência.
Em suma, a racionalidade e cientificidade, que marcam o ateísmo ideológico, estão cada vez mais a serviço dos Direitos Animais, tanto respaldando-o como desmontando os argumentos do lado oposto -– carnismo e especismo.
d) Ceticismo científico
Ainda é pouco comum na internet brasileira que ateus declaradamente céticos se invistam em desconstruir os argumentos e preconceitos do carnismo e do especismo, tal como se faz muito com técnicas pseudocientíficas como a homeopatia e a clarividência, com crenças religiosas e com lendas de internet. Mas há um enorme potencial para que o ceticismo científico se alie permanentemente com os Direitos Animais, no que se refere a questionar e desmontar as crenças antropocêntricas
Tal como pseudociências, o carnismo e o especismo são, como é possível verificar em análise crítica rigorosa das suas justificativas, sustentados por teorias científicas ultrapassadas, falácias lógicas e preconceitos contra vegetarianos e veganos. São um prato cheio para trabalhos de ceticismo, em especial no que tange a aposentar argumentos como “O ser humano precisa de carne” ou “A ‘lei da sobrevivência’ nos obriga a criar e matar animais para proveitos nossos” e apontar falácias.
Está ficando cada vez mais difícil ser ao mesmo tempo verdadeiramente cético e carnista militante sem ser fortemente questionado, visto que tal posição é muito contraditória e, conforme se flagra hoje em dia, compromete seriamente essa qualidade de cético.
Ainda é possível ser ateu e especista ao mesmo tempo, mas o ateísmo ideológico, pautado em valores como o humanismo secular, a racionalidade militante e o ceticismo científico, tem conexões e semelhanças muito fortes com os Direitos Animais. Tanto que se torna complicado não ver contradições no pensamento de alguém que é ateu, humanista-secular, cético, racionalista e pró-científico mas segue pensamentos baseados em preconceitos, teorias científicas vencidas, paixões (como o prazer do paladar) e até falácias lógicas.
Dado esse grande potencial de aliança entre os DA e o ateísmo ideológico, já selada por muitos ateus veg(etari)anos, é possível afirmar que há tantas ou mais razões para ateus dessa categoria se tornarem simpatizantes ou defensores dos DA quanto/que para hindus e jainistas serem vegetarianos. Não há obrigação coercitiva nem mandamento divino que determine que ateus ideológicos devam se tornar vegetarianos e considerar os animais não humanos sujeitos morais plenos, mas há sim o respeito coerente ao complexo ideológico que esse tipo de ateísmo traz consigo.
Afinal, não convém a um humanista secular apoiar ou consentir com um sistema que oprime seres vulneráveis e nega direitos a quem os merece. Idem a um cético usar falácias e teorias científicas ultrapassadas. A um racionalista e amigo da Ciência defender algo deletério na base da paixão, da reação adversa visceral e de dados cientificamente duvidosos. A alguém que não acredita em deuses e em suas morais absolutas defender que a Ética não mude a ponto de incluir os animais não humanos como sujeitos morais.
Ser “vegano porque ateu ideológico” não é exatamente como ser vegetariano porque hindu. Não é uma ordem divina. Ou uma regra cuja violação acarreta punição. Mas é uma recomendação da Razão e também da consciência ética. É uma correção das qualidades de humanista secular, cético, racionalista, amigo da Ciência, reconhecedor da mutabilidade da ética humana, negador de morais petrificadas. Enfim, de ateu ideológico.
Darwin:
evolucionismo anticristão rumo à extinção do homem
Luis Dufaur
O leitor me perdoe começar com este fato aberrante: a Ginemedex, clínica de aborto de Barcelona, utiliza liquidificadores para “sumir” com os restos de bebês abortados com mais de sete meses de gestação! O pretexto para essas “moedoras de bebês” é o fato de a lei obrigar as clínicas a enterrar os despojos das crianças sacrificadas com 11 ou 12 semanas de gestação. E tais clínicas não querem arcar com as despesas do enterro...
Como é possível que tal fato não suscite uma onda de compaixão pelas criancinhas que acabam assim os seus dias? E, convém ressaltar, elas não foram batizadas!
Pensava eu nisto quando lia escritos de John Holdren –– o novo “czar” das ciências do presidente Obama ––, que me lembraram os sofismas da pregação progressista, ecologista e da “cultura da morte”. E ia refazendo na minha cabeça as discussões que tinha com colegas progressistas, aos quais eu apresentava a contra-argumentação.
— “É a evolução... o homem multiplicou-se mais do que o meio ambiente pode suportar. Com sua civilização, ele ameaça o clima da Terra. É preciso reduzir seu número até com métodos drásticos e compulsivos”.
— E a moral? –– reagi como que instintivamente.
— “Moral? Não há moral. Darwin mostrou que nada é definitivo, que o homem é apenas um estado passageiro da evolução. Ontem ele se assemelhava a um simióide que andava de quatro pelas galharias das árvores. Anteontem estava contido numa espécie de ameba no fundo dos mares. Amanhã será outra coisa. A natureza muda... e a moral se altera junto. Os mais fortes prevalecem. No futuro, virá talvez um ‘homem novo’ que substituirá nossa orgulhosa humanidade. É a lei da evolução”.
— Mas o homem não é filho de Deus, saído de suas próprias mãos, feito à sua imagem e semelhança, destinado à bem-aventurança eterna?
— “Ora essa! Darwin mostrou que nada disso tem base científica. Isso é coisa de espírito retrógrado, fundamentalista, inimigo da ciência e do progresso humano”.
— Mas se nada é fixo, imutável, eu não posso ter segurança de nada?
— “Nada... nada..., nada é imutável. Veja a Religião católica, teólogos que aceitam a evolução, como Teilhard de Chardin. Eles criaram uma nova teologia, viraram a Igreja Católica pelo avesso. A única segurança é que tudo ficou inseguro, incerto. É a evolução, meu caro, é preciso adaptar-se ou desaparecer!”
Enquanto afastava estas ameaçadoras idéias, fui me informar sobre o que Darwin, cujo bi-centenário do nascimento comemora-se neste ano, afirmava de fato a respeito da evolução.
A viagem em volta da Terra e
Mais de vinte anos depois, o naturalista Alfred Russel Wallace (1823-1913) mostrou a Darwin o livro que ia publicar, com idéias próximas às dele. Darwin recuperou então as velhas anotações, ordenou-as e publicou-as. Surgiu assim, há 150 anos, A Origem das Espécies.Charles Darwin (1809-1882) nasceu numa abastada família inglesa. Estudou ciências naturais nas universidades de Edimburgo e Cambridge. Ainda jovem, empreendeu uma viagem de quase cinco anos em volta da Terra (1831-1836). Nela acumulou observações e amostras do reino animal. De retorno à Inglaterra, guardou as anotações embaixo de uma escada. As crianças da casa arrancavam as folhas para brincar.
Contrariamente à saga corrente, a viagem não mudou a atitude de Darwin em face de Deus. Por exemplo, após entrar numa floresta brasileira, escreveu: “Não era possível formar-se uma ideia dos sentimentos de maravilhamento, de admiração e de devoção que enchem e encantam o espírito. Lembro-me bem de ter ficado convencido de que no homem há mais do que o simples influxo do corpo”.
Crise religiosa:
Darwin torna-se anticristão
Mas o Charles Darwin de A Origem das Espécies mudara completamente em relação ao naturalista expedicionário. Ele fora criado no protestantismo, tendo depois perdido qualquer vestígio de fé entre 1836 e 1839. Tornou-se agnóstico e visceralmente contrário ao cristianismo. Em sua Autobiografia, narra como voltou-se contra o Deus da Bíblia. Tal confissão de apostasia é tão chocante, que seus descendentes impediram a divulgação. Ela só veio a lume numa edição de 1958, onde afirma num trecho censurado: “De fato, dificilmente posso admitir que alguém pretenda que o cristianismo seja verdadeiro; pois, se assim fosse, as Escrituras indicam claramente que os homens que não creem –– isto é, meu pai, meu irmão e quase todos os meus melhores amigos –– serão punidos eternamente. E isto é uma doutrina condenável”.
Anticristianismo e evolucionismo
explicitados simultaneamente
explicitados simultaneamente
Darwin passou a confessar-se agnóstico e a menosprezar acintosamente a Religião. Lê-se em sua Autobiografia: “O Antigo Testamento é manifestamente falso, a Torre de Babel, o arco-íris como sinal, etc. Dado que ele atribui a Deus os sentimentos de um tirano vingativo, não é mais digno de confiança que os livros sagrados dos hindus ou as crenças de outros bárbaros. [...] Deixei de acreditar no cristianismo enquanto revelação divina”.
Ele foi abandonando a ideia de um Deus pessoal, e mesmo da existência de uma causa final na natureza: “O velho argumento de uma finalidade na natureza, que outrora me parecia tão concludente, caiu depois da descoberta da seleção natural. [...] Não acredito que haja muito mais finalidade na variabilidade dos seres orgânicos e na ação da seleção natural do que na direção em que sopra o vento”.
Homem e natureza se lhe afiguravam então como meros subprodutos de uma cega fatalidade, que progride rumo ao ignoto. O motor desse progresso seriam transformações devidas a acidentes fortuitos e à necessidade. As espécies resultantes, ou mais evoluídas, exterminariam fatalmente as menos evoluídas, mais fracas e inferiores.
Darwin percebeu que, sem um princípio e um fim, o homem ficaria escravo, como um bicho, ao capricho de sua fantasia e de seus instintos: “Um homem que não tem uma crença bem sólida na existência de um Deus pessoal, ou numa existência futura com retribuição e recompensa, não pode ter outra regra de vida, segundo me parece, senão seguir seus impulsos e seus instintos mais prementes, ou que ele acha os melhores”. Esta conclusão, ele a enfeitou com sentimentos típicos do romantismo vitoriano do século XIX.
Sua crise religiosa, que descambou para a apostasia e para o anticristianismo, correu lado a lado com a explicitação do evolucionismo. Então, não é de espantar que o anticristianismo se encontre entranhado no pensamento darwinista e de seus sucessores “neo-darwinistas”, embora pretendam que se trate de meras doutrinas científicas.
Bombardeou o conceito que o homem tem de si próprio
Ele foi abandonando a ideia de um Deus pessoal, e mesmo da existência de uma causa final na natureza: “O velho argumento de uma finalidade na natureza, que outrora me parecia tão concludente, caiu depois da descoberta da seleção natural. [...] Não acredito que haja muito mais finalidade na variabilidade dos seres orgânicos e na ação da seleção natural do que na direção em que sopra o vento”.
Homem e natureza se lhe afiguravam então como meros subprodutos de uma cega fatalidade, que progride rumo ao ignoto. O motor desse progresso seriam transformações devidas a acidentes fortuitos e à necessidade. As espécies resultantes, ou mais evoluídas, exterminariam fatalmente as menos evoluídas, mais fracas e inferiores.
Darwin percebeu que, sem um princípio e um fim, o homem ficaria escravo, como um bicho, ao capricho de sua fantasia e de seus instintos: “Um homem que não tem uma crença bem sólida na existência de um Deus pessoal, ou numa existência futura com retribuição e recompensa, não pode ter outra regra de vida, segundo me parece, senão seguir seus impulsos e seus instintos mais prementes, ou que ele acha os melhores”. Esta conclusão, ele a enfeitou com sentimentos típicos do romantismo vitoriano do século XIX.
Sua crise religiosa, que descambou para a apostasia e para o anticristianismo, correu lado a lado com a explicitação do evolucionismo. Então, não é de espantar que o anticristianismo se encontre entranhado no pensamento darwinista e de seus sucessores “neo-darwinistas”, embora pretendam que se trate de meras doutrinas científicas.
a |
Diz um dos corifeus darwinistas hodiernos, o Prof. Dominique Lecourt, da Universidade da Sorbonne-Paris VII: “Darwin estava bem ciente de que tirava o homem do centro, aproximava-o do animal, e entrava em conflito com a imagem de si próprio. [...] Darwin [...] confessou à sua mulher, muito piedosa, que sua teoria não concordava com o dogma cristão. Ele sabia que tinha fabricado uma bomba”. De fato, suas teorias serviram para dinamitar a visão racional da ordem do universo e sua procedência da criação.
Darwin também é tido como um dos fundadores do ecologismo, que exalta a vida tribal animalesca “integrada” numa natureza em perpétua evolução.
Darwin também é tido como um dos fundadores do ecologismo, que exalta a vida tribal animalesca “integrada” numa natureza em perpétua evolução.
Investida ateia pretende que o nada
produziu o Universo
Recentemente o físico inglês Stephen Hawking publicou um livro pretendendo que o nada por si próprio teria gerado a Criação. Para esta afirmação ele apela a argumentos de tipo científico mas envolve como pressuposto o ateísmo, se afastando dos limites da Ciência.
A árdua tese foi alvo de muita discussão e reprovação também por parte de cientistas. Oferecemos a seguir uma amostra dessa polêmica com muitos e decisivos argumentos esclarecedores do truque ateu.
Muitas vezes os grandes sábios não entendem o que, no entanto, era ensinado com simplicidade e concisão aos meninos e meninas que outrora se preparavam para a Primeira Comunhão.
O físico inglês Stephen Hawking “é um cientista de grande fama, conhecido por sua terrível desgraça, até pelo público que não se interessa por astrofísica. Mais de uma vez foi visto na televisão com o seu pobre corpo devastado por uma doença degenerativa do sistema nervoso, que o obriga a andar numa cadeira de rodas e lhe permite comunicar-se apenas através de um sintonizador” (Stefano Zecchi no “Il Gornale”, de Milão, 3/9/2010).
O fato de nos condoermos com sua situação pessoal não implica em concordarmos com suas teses científicas.
Hawking nem sempre foi tão radical quanto se revela no livro O projeto grandioso (The Grand Design), recém-publicado em co-autoria com Leonard Mlodinov, do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia). O jornal “Times”, de Londres, apresentou dele largos extratos no início de setembro, antes que o volume chegasse às livrarias.
No seu livro anterior, de 1988, intitulado Uma breve história do tempo, Hawking já se questionava sobre a compatibilidade entre um Deus criador e a compreensão científica do Universo, porém sem afirmá-la nem negá-la: “Se o Universo é contido em si mesmo, sem borda ou fronteira, não teria começo ou fim: simplesmente seria. Neste caso, qual o lugar de um criador?”.
E acrescentava: “Se descobrirmos uma teoria completa, filósofos, cientistas e o público leigo tomariam parte na discussão de por que o Universo e nós existimos. Se encontrarmos a resposta, seria o grande triunfo da razão humana, pois então conheceríamos a mente de Deus” (apud Marcelo Gleiser, Hawking e Deus: relação íntima, “Folha de S. Paulo”, 12-8-2010, pág. A23).
Mas no livro The Grand Design “a tese é radical: não há necessidade de um Deus para se compreender a formação do Universo e de nossa presença nesta Terra” ‒ comenta Zecchi em seu artigo do “Il Giornale”.
Hawking rejeita a teoria de Isaac Newton segundo a qual o Universo não teria podido formar-se de modo espontâneo, mas teria sido posto em movimento por Deus.
Em junho deste ano, durante uma série televisiva do Canal 4 da Inglaterra, Hawking declarou não acreditar na existência de um Deus pessoal:
“A questão é: a forma pela qual o Universo teve origem resulta de uma escolha feita por Deus por razões que não podemos compreender, ou foi determinada pelas leis da Ciência? Eu creio na segunda hipótese. Se quiserem, podem chamar 'Deus' as leis da ciência, mas não será um Deus pessoal com o qual (os homens) poderiam se encontrar, e ao qual poderiam apresentar pedidos” (apud Pietro Vernizzi, site Il Sussidiario, 3-9-2010).
Seria uma forma peculiar de panteísmo, que não estaria propriamente no Universo, mas nas leis da ciência que o regem; e que, segundo ele pensa, pré-existem em relação ao Universo e permitem que ele surja espontaneamente do nada.
Hawking afirma: “A criação espontânea é a razão pela qual existe alguma coisa e não o nada, pela qual o Universo existe, pela qual nós existimos. Graças à lei da gravidade, o Universo pode criar-se e se cria do nada. É inútil, portanto, apelar para Deus como causa, para fazê-lo mover o céu e acionar a mola do mecanismo do Universo”.
O “nada” de onde tudo vem... esse absurdo
Em dois artigos na “Folha de S. Paulo”, o brasileiro Marcelo Gleiser, professor de Física teórica no Dartmouth College (Hanover, EUA), rebate as teses de Hawking do ponto de vista científico. No artigo de 12 de setembro, já citado, ele indica a procedência dessas teses:
Hawking afirma que tem novos argumentos que colocam Deus para escanteio de vez. Será?
A ideia dele, que já circula desde os anos 70, vem do casamento da relatividade (de Einstein) e da mecânica quântica para explicar a origem do Universo, isto é, como tudo veio do nada.
“Primeiro, usamos as propriedades atrativas da gravidade para mostrar que o cosmo é uma solução com energia zero (o 'nada' de onde tudo vem) das equações que descrevem sua evolução".
“Segundo, como na mecânica quântica (que descreve elétrons, átomos etc.) tudo flutua, o Universo pode ser resultado de uma flutuação de energia nula a partir de um Universo que 'contém' todos os Universos possíveis, o Multiverso".
Gleiser comenta:
“É lamentável que físicos como Hawking estejam divulgando teorias especulativas como quase concluídas. A euforia na mídia é compreensível: o Homem quer ser Deus.
“O desafio das teorias a que Hawking se refere é justamente estabelecer qualquer traço de evidência observacional, até agora inexistente. Não sabemos nem mesmo se essas teorias fazem sentido. Certas noções, como a existência de um Multiverso, não parecem ser testáveis”.
Ora, uma teoria científica só pode ser aceita se forem apresentadas comprovações experimentais.
Por isso, conclui Gleiser nesse artigo: “A existência de uma teoria final é incompatível com o caráter empírico da física, baseado na coleta gradual de dados. Não vejo como poderemos ter certeza de que uma teoria final é mesmo final. Como nos mostra a história da Ciência, surpresas ocorrem a toda hora. Talvez esteja na hora de Hawking deixar Deus em paz”.
Stephen Hawking tem muito prestigio nos ambientes anti-católicos. Na foto, com Obama.
Gleiser toca num ponto para o qual acenamos aqui apenas de passagem: Sendo a inteligência do Homem limitada, por mais que avancem os estudos da física, jamais o homem chegará à compreensão final, última, da matéria, do fenômeno da vida, da alma espiritual; numa palavra, do Universo criado.
Só a mente divina compreende tudo até o fim. Por mais que o homem progrida nos seus conhecimentos, desfechará sempre no mistério, que lhe abrirá novas portas para a investigação, sem que jamais chegue à compreensão total e final.
Com Deus é diferente. Não só foi capaz de criar este mundo, com todas as suas complexidades, como poderia criar muitos outros mundos, porque é onipotente. Isso, que desconserta os sábios, as crianças aprendem no Catecismo...
Nossa Terra não seria um fenômeno raro no Universo.
Em sua recensão do livro de Hawking, Stefano Zecchi observa que ele apresenta uma segunda ordem de argumentos para tentar mostrar que não há nenhum intuito sapiencial que postule a intervenção de um ser divino na existência do Universo: Hawking recorda a descoberta, em 1992, de um planeta que orbita uma estrela de modo semelhante ao da Terra em torno do Sol.
Deus Pai
Isto confirma, a seu juízo, que o caso terrestre não é único. Ora, considerando que é altamente provável que não só existam outros planetas semelhantes à Terra, mas inclusive outros universos, Hawking se pergunta: se Deus tivesse querido criar o Universo com a finalidade de criar o homem, que sentido teria acrescentar todo o resto?.
É precisamente a este tema que Marcelo Gleiser consagra o segundo artigo que escreveu, sob o título “Quão rara é a vida?” (“Folha de S. Paulo”, 19-9-2010, pág. A23). Diz ele:
“Outro argumento que Hawking usou é que o Universo é especialmente propício à vida, em particular à vida humana. Mais uma vez vejo a necessidade de apresentar um ponto de vista contrário. Tudo o que sabemos sobre a evolução da vida na Terra aponta para a raridade dos seres vivos complexos. Estamos aqui não porque o Universo é propício à vida, mas apesar de sua hostilidade."
“Note-se que, ao falarmos sobre vida, temos de distinguir entre vida primitiva (seres unicelulares) e vida complexa. Vida simples, bactérias de vários tipos e formas, deve mesmo ser abundante no Cosmos”.
Gleiser aceita, portanto, a existência de seres unicelulares espalhados pelo Cosmos. Mas não há nenhum fato que comprove isso, posto que, como ele mesmo admite e é óbvio, “o único exemplo de vida que conhecemos” é aqui na Terra. Em todo caso, ele prossegue:
“Devemos lembrar que seres multicelulares são mais frágeis, precisando de condições estáveis por longos períodos. Não é só ter água e a química correta."
“O planeta precisa ter uma órbita estável e temperaturas que não variem muito. Só temos as quatro estações e temperaturas estáveis porque nossa Lua é pesada. Sua massa estabiliza a inclinação do eixo terrestre (a Terra é um pião inclinado de 23,5°), permitindo a existência de água líquida durante longos períodos. Sem a Lua, a vida complexa seria muito difícil."
“A Terra tem também dois 'cobertores' que a protegem contra a radiação letal que vem do espaço: o seu campo magnético e a camada de ozônio. Viver perto de uma estrela não é moleza. Precisamos de seu calor, mas ele vem com muitas outras coisas nada favoráveis à vida."
“Quem afirma que o Universo é propício à vida complexa deve dar uma passeada pelos outros planetas e luas do nosso Sistema Solar."
“Ademais, o pulo para a vida multicelular inteligente também foi um acidente dos grandes. A vida não tem um plano que a leva à inteligência. A vida quer apenas estar bem adaptada ao seu ambiente. Os dinossauros existiram por 150 milhões de anos sem construir rádios ou aviões. Portanto, mesmo que exista vida fora da Terra, a vida inteligente será muito rara. Devemos celebrar nossa existência por sua raridade, e não por ser ordinária”.
Não deixa de causar perplexidade que uma mente tão privilegiada como a de Hawking não tenha presente dados tão conhecidos como os que Gleiser recorda. E nem mesmo se pergunta como é que da matéria inanimada se passou para os primeiros seres vivos unicelulares, e daí todo o resto, até chegar à vida racional.
De qualquer modo, termina aqui a explanação de Gleiser, sem dúvida por desejar permanecer no seu campo próprio de cientista e não ser acusado de adentrar pela filosofia e teologia. Mas nós, que não estamos adstritos ao campo das ciências naturais, podemos — e devemos — fazê-lo, posto que elas não esgotam a explicação do Universo.
Finalidade do homem:
A contemplação sacral do UniversoApós mencionar a pergunta de Hawking sobre por que Deus criou todo o Universo, se seu intuito fosse apenas colocar o Homem num planeta adequado para a vida humana, Stefano Zecchi observa judiciosamente:
“Qual o sentido, qual o significado do Universo, do Homem? A pesquisa científica tenta (sempre tentou) prender numa jaula esse fastidioso, cientificamente inoportuno significado (do Universo) e jogar fora a chave. Mas enquanto existir o Homem, essa jaula nunca poderá ser trancada, porque, enquanto existir o Homem, que tem o lume da razão, ele não renunciará a perguntar-se sobre o significado da vida e da morte, do mal e da beleza”.
Aí está a resposta para a pergunta de Hawking: Deus não fez o mundo apenas para atender às necessidades vegetativas e animais do Homem, mas para que ele, contemplando o Universo, conhecesse, amasse e servisse o seu Criador, e nessa contemplação sacral alcançasse o grau de felicidade possível nesta Terra, prelúdio da felicidade eterna no Céu.
As criaturas são vestígios, representações e sinais que nos ajudam a ver a Deus.
"Do Itinerário da Mente para Deus" de São Boaventura.
Santa Hildegarda contempla a Criação
As criaturas são, efetivamente, uma sombra, um eco e uma pintura daquele Primeiro Princípio potentíssimo, sapientíssimo e boníssimo — daquele que é a eterna fonte, a luz, a plenitude, a causa, o exemplar e a ordenação de tudo. Elas são os vestígios, as aparências, as representações e os sinais divinamente apresentados aos nossos olhos para nos ajudarem a ver a Deus na criação (op. cit. II, 11).
Cego é, por conseguinte, quem não é iluminado por tantos e tão vivos resplendores espalhados na criação. É surdo quem não acorda por tão fortes vozes. É mudo quem em presença de tantas maravilhas não louva o Senhor. É insensato, enfim, quem com tantos e tão luminosos sinais não reconhece o primeiro Princípio.
Abre, pois, os olhos e inclina o ouvido de teu espírito, desata teus lábios e dispõe teu coração para que, em todas as criaturas, vejas, ouças, louves e ames a teu Deus, se não quiseres que todo o Universo se levante contra ti. Um dia toda a criação se erguerá contra os insensatos (Sap. 5, 21), ao passo que será motivo de glória aos sensatos, os quais podem dizer com o profeta: Senhor, a visão de tuas criaturas me encheu de gozo. Exulto perante o espetáculo de tuas mãos. Como são grandiosas, Senhor, as tuas obras! Tudo fizeste com sabedoria. Toda a Terra está cheia de teus bens (op. cit. I, 15).
As perfeições invisíveis de Deus, desde a criação do mundo, se vêem visivelmente através do conhecimento que as criaturas dele nos dão. De maneira que são indesculpáveis (Rom. I, 20) os que não querem considerar tais coisas e recusam, com isso, reconhecer, bendizer e amar a Deus na criação, porque estes não querem passar das trevas à admirável luz de Deus (op. cit. II, 13).
ATEU, GRAÇAS A DEUS
Uma carta chegava às mãos do Gonçalves e quem a assinava era um grande empresário de São Paulo, que ha muitos anos vinha fazendo expressivas doações à Casa Transitória.
Em poucas linhas ele explicava que havia construído, no pátio de sua fábrica, uma creche para abrigar, durante o turno de trabalho, os filhos de suas funcionárias e, em razão dos gastos que teria com o empreendimento, ficaria impossibilitado de realizar as doações costumeiras.
Gonçalves, imediatamente após a leitura da carta, através de ligação telefônica, conseguiu agendar uma entrevista com o citado empresário. No dia marcado, após as saudações, o empresário se manifesta, dizendo:
- Sr. Gonçalves, o senhor tem cinco minutos para fazer a exposição do seu caso, mas quero que saiba que, embora eu tenha colaborado com sua instituição, eu sou ateu !
Com presença do espírito, Gonçalves retruca:
- Eu aceito os meus cinco minutos, mas com a condição de que me conceda mais cinco para tratar do seu caso...
Ante o sinal afirmativo, Gonçalves assim se manifesta:
- Primeiro eu vou tratar do seu caso. Havia três religiosos e um ateu que, ao adentrarem o mundo espiritual, foram entrevistados por um anjo que lhes indagava quanto às suas atuações enquanto habitaram o planeta Terra e, após as narrações, lhes disse:
- Vocês deverão voltar à crosta terrestre, visto que apenas falaram da caridade, sem a praticar.
Vendo que os três religiosos tomavam o caminho de volta, o ateu os acompanhou.Então o anjo lhe diz:
- Porque te afastas?
- Ora, bom anjo! Se eles que acreditavam em Deus não puderam ficar, que dizer de mim, que nunca acreditei na sua existência ?
- Não é o que consta na sua ficha, pois, aqui leio o quanto você ajudou a muitas pessoas.
- Ajudei, sim, porque eu os via suplicar a Deus que os ajudasse; então eu pensava; " Deus não existe, assim nunca poderá ajudá-los". Por isso, penalizado, eu os ajudava...
- Pois pode entrar, meu amigo, você praticou a verdadeira caridade.
Tão comovido ficou o empresário que a conversação se estendeu por quase duas horas e, ao final, o empresário diz :
- Pois bem, Gonçalves, de que forma eu posso continuar ajudando ?
- Triplicando o valor das suas doações à nossa Casa Transitória...
- Pois bem, - arremata o empresário - será triplicada, mas quero que saiba que continuo ateu, graças a Deus.
Miguel Pereira
Do livro
José Gonçalves Pereira - Apóstolo do Bem e Herói da Caridade.
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